domingo, 13 de setembro de 2009

Tiros que não matam


Nem todas as batalhas podem ser vencidas. Por mais que suas estratégias sejam boas, sempre existirão aquelas que você não conseguirá ganhar. Ah... a derrota. O momento que você vê todo o tempo que dedicou por algo indo por água a baixo. A dor de descobrir que você se esforçou por um prêmio de consolação. Aquele doloroso prêmio de consolação, que parece dizer: "eu sou tudo o que você merece agora, um consolo".

Admitir a derrota talvez seja a parte mais difícil. Tão difícil que algumas vezes preferimos nem fazer isso, por mais obvia que a nossa derrota seja. No fundo nós sabemos que perdemos, mas preferimos nos iludir! Preferimos pensar que ainda conseguiremos virar o jogo. Preferimos pensar que, se por acaso virmos a perder, não terá sido por desistência. Ficamos buscando por todo o resto de nossa vida a morte honrosa que merecemos.

Há também derrotas que nós admitimos de forma inusitada, como quem sempre soubesse dela, mesmo antes da guerra começar. Desistimos e admitimos logo por medo de uma dor maior lá na frente, como uma forma de minimizar a nossa perda. O tempo passa e percebemos que o nosso maior erro foi ter desistido logo de cara.

É na derrota que percebemos a importância do que perdemos. Objetivos que pareciam pequenos causam uma dor tão grande quando nos damos conta da perda. Nos assustamos com a dor e a dificuldade que é ao dizer "eu perdi". Nos assustamos ao perceber o quanto foi duro olhar pros lados e não conseguir se agarrar em nada que lhe de esperança. Nos assustamos com o quão abalador foi essa derrota. Ficamos limitados ao nosso corpo caído sem forças pra se levantar. Sem motivos pra se levantar.

A derrota nos revolta. Procuramos culpados, falhas em nossos passos, conspirações do universo. Nessa hora, parece que tudo trabalhou contra você. Você enxerga todos os seus passos como passos errados, e o pior é que percebe que você não saberia quais seriam os corretos. Nos sentimos incapacitados de aprender com a nossa própria derrota.

"A vida é feito de altos e baixos", eles dizem. "O que você tem que fazer é levantar e seguir em frente!" Ah... Quem dera fosse fácil assim... Bem que nós queríamos nos levantar, mas acabamos de ser atingidos por um tiro no peito, carregado com as memórias de todos os outros tiros fatais que recebemos. Nós sabemos que, por mais difícil que tenha sido, sobrevivemos a todos estes tiros, assim como sabemos que vamos sobreviver a este. Mas... sobreviver? Pra que? Pra levar outro tiro lá na frente? Resolvemos ficar deitados esperando a morte que não virá.

E depois daquele interminável período que você passou agonizando, a dor mortal passa e você resolve se levantar. Mas olha para os lados e fica com dúvidas de para onde vai. Você não tem mais objetivo algum! A única coisa que sobrou foi o medo de arranjar outro objetivo para perder e agonizar todo novamente.

A derrota dói. Mas para se ter um vencedor, é necessário o perdedor. E a parte mais irônica da derrota é que vemos o vencedor como um criminoso. Autor de um crime que você queria ter cometido. Nos convencemos de que ele não é bom o bastante para ter vencido. Mas, por mais duro que seja, se ele foi o vencedor, ele é sim bom o bastante...

...ou, ao menos, melhor que você.

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