segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fold


Jogue bem, e não me fale nada. Palavras aqui deve ser apenas outro gesto mudo. Leia meus sinais e adiante-se a meus movimentos. Mude de estratégia, blefe, recue, mas mantenha este silêncio. Não faça com que o dizer oculto em um discreto gesticular ganhe som, seria de dispensável obviedade. Deixe a beleza de um ambiente sem ruídos se manter por um instante a mais e, se for possível, aprecie cada momento. Talvez assim verá que, como tantas outras coisas, nada disso trata-se de derrotar adversários.

Há jogos que se ganham no grito.
Opto aos que premiam a sutileza.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ponto de fuga


Havia o céu nublado, mas não era o bastante. Embora adorasse aquele costumeiro vento de noites frias que entrava pela sua janela, preferiu fechá-la para ver se encontrava algo melhor. Todas aquelas nuvens tão armadas e monocromáticas o entediavam.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Imperfeitos


Verbos no pretérito deviam sempre ter o gosto de nostalgia, memórias que sequer tem começo, meio, ou fim. O nostálgico é aquele panorama de época, um pequeno fragmento de doce recordar.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Interprete


Olho para a paisagem do planalto e procuro morros. Lembro-me de como pareciam instáveis para um sujeito jovem como eu. Sinto falta do vento gelado que corria por até onde o sol cansado permitia, de suas paisagens noturnas que se revelavam apenas no que farol do carro tocasse. Estradas rasgadas pela neblina.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Estável


Dez da manhã. Esse era o horário em que escolheu viver. O sol já brilhava forte em sua janela, chamando-o para ver a mesma paisagem arrastada de sempre. O dia já havia começado há tempos, mas até isso parecia difícil de entender. Nada era o que pensava que seria.

Sem concluir ou apostar, as sombras trocaram de lugar e logo a luz deixou de entrar por sua janela. Numa rotina vazia, seus dias terminavam sem que ele soubesse onde o sol havia repousado.

sábado, 7 de abril de 2012

Enjoy!


Um brinde ao esterco no meio do caminho! Afinal de contas, na vida um problema nunca foi uma pedra singular de tal beleza estética. Jamais! Era algo que incomodava, sem encanto e sem história. Era chato, pois era um problema.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ao vento


Gostava de dormir ao som de músicas, mas naquela noite preferiu apenas o nada. Para representar o silêncio havia o discreto ruído de um ventilador que lançava ventos gelados e cortantes sobre o peito descoberto. Naquele instante, queria e sentia o frio. Repudiava o calor.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O dia seguinte


Desmotivada, ela abria os olhos sem nenhuma pressa. Lembrava-se do dia anterior não sabendo se havia sido um pesadelo conturbado, ou se na verdade tinha sonhado todos os tão coloridos e roteirizados dias antecedentes. Resolveu abandonar tais pensamentos e observou todo o cenário ao redor ainda escondida no calor dos lençóis. Em meio a tantas dúvidas e aforismos de teor melancólico, finalmente conseguiu encontrar alguma certeza naquela manhã:

Estava acordada.
Ou pelo menos já não sonhava mais.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Divagação de curto alcance


Tempo que cria, arquiteta, norteia, e mata. Faz cor e descolore. Relativiza e insinua certezas. Aos espertos deposita esperança, reservando a angústia apenas pra quem é muito ingênuo pra pensar sobre ele. É mestre de controversas clichês, ainda que seja belo e invisível.

Não se pensa sobre o tempo. Deixa-se morrer por ele, permitindo-se viver todas suas momentâneas belezas. Quanto a primeira parte não temos escolha. Desfrutemos da segunda então!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre algo mais


Eles eram amigos, ou algo mais. Curiosidade era o que havia demais. Em ambos! Dois curiosos que não se reconheciam. Eis que se cria o confuso e óbvio conflito da amizade entre um homem e uma mulher. Uma história já sabida por todos, mas nunca enxergada quando se faz parte dela.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Janeiro


Caía com leveza, fazia barulho ao se espatifar numa superfície de vidro, e por ela escorria como uma forma de fazer arte. Ao fundo, o brilho do asfalto molhado contracenando com um infinito céu cinzento. Tudo ao som de pequenos e contínuos estralos no telhado, fazendo parecer que o tempo é algo que já não impota mais.