Como se faz uma bola de neve

Felizes são aqueles que não têm malícia. Aqueles que não conseguem enxergar a maldade por mais que ela esteja em sua cara. São os ingênuos e espontâneos que devem saber o segredo da felicidade. Por serem tão ingênuos, mal desconfiam de que sabem de um segredo que os maliciosos tanto procuram. Por serem tão espontâneos, talvez nem pensem em saber como se faz pra ser feliz.

Maliciosos, estes sim procuram uma forma de alcançar a felicidade. Passam noites em claro pensando e repensando no que devem fazer para se tornarem felizes. Procuram evitar erros, procuram entender as pessoas. O pior para o malicioso é entender que nem todos detêm de tal malícia, que nem todos pensam iguais a ele. O malicioso não acredita na bondade, não acredita na ingenuidade. Acha que todos  são tão maliciosos quanto ele. Por isso teme. Ele teme a todos, pois só o malicioso sabe do que é a malícia é capaz de fazer.

Já os ingênuos não conseguem enxergar os maliciosos. E por não verem toda a malícia que está em sua volta, não tem medo o mundo. Vivem sem temer as ações terríveis que outra pessoa é capaz de fazer. A ingenuidade causa raiva aos maliciosos, pois ela leva o ingênuo a locais que o malicioso quer chegar, porém não consegue. Não consegue por ter medo de cruzar com outro malicioso no caminho, e que este acabe com seus planos.

Os ingênuos não estão imunes ao sofrimento, pelo contrário! Por se arriscarem mais num mundo tomado por maliciosos, devem se deparar com o sofrer bem mais vezes! E é neste momento que é criado um novo malicioso. O até então ingênuo acredita que, se tivesse um pouco mais de malícia, teria previsto e evitado o sofrimento. De pouco em pouco, de sofrer em sofrer, a ingenuidade da pessoa vai morrendo, pois a cada sofrer, ela vai adquirindo ainda mais malícia, acreditando sempre que isto irá lhe poupar de muitos sofrimentos futuros. Mal sabe ela que este mal lhe pouparia, não só do sofrimento, mas todo o resto. Iria poupá-la da vida.

Um dia, a pessoa irá adquirir tanta malícia que acabará se tornando prisioneira do medo de seus pensamentos. Ela não conseguirá dar um passo sem planejá-lo minuciosamente antes. Se cansará de temer o mundo, e começará a se arrepender de tudo o que não fez. Começara a perceber que, por ter medo de errar, abriu mão do maior bem que tinha: sua ingenuidade. Talvez estivesse ai a fórmula que tanto procura, a fórmula de ser feliz.

"Eu era feliz e não sabia"

Mas, se o segredo da felicidade é ser ingênuo, como faz para um portador da malícia se livrar deste mal?

Esta com certeza é uma pergunta que só um malicioso seria capaz de fazer.