Romances são romances

"A vida real não é como nas novelas". Felizmente ou infelizmente, isso é verdade. Porém, existem momentos em nossa vida que se confundem com capítulos novelescos. A importância daquela história que você está vivendo lhe parece exercer um drama semelhante aos da ficção. E assim como ocorre em relação às novelas, esperamos ansiosamente pelo seu clímax, nos perguntamos qual será o seu final.

Todo capítulo tem seu desfecho, porém nem todos têm um clímax. A espera por um dia que você nem ao menos sabe se vai chegar lhe faz cair numa rotina torturante: Ao começar dia, você acorda dizendo para si mesmo que hoje é o dia, por mais que não acredite muito nisso; e ao terminar-lo, você vai dormir se perguntando se esse capítulo algum dia terá fim. Fica tentando se imaginar daqui a alguns anos enxergando tudo isso que você está vivendo agora. Será que isso que você está vivendo foi algo de grande importância? Teria te afetado de positiva ou negativa? Teria sido longo ou curto? Teria sido apenas o fim de mais um capítulo ou o fim de todo um ato?

Essa espera lhe faz perceber um lado criativo seu jamais visto. A cada dia que passa você vai criando novos finais para tal capítulo. Finais que nem sempre deveriam ter sido imaginados. Finais otimistas, ideais. Finais dignos de Oscar.

Cedo ou tarde, tal capítulo que às vezes parecia que duraria a eternidade finalmente chega ao seu final. Final este que dificilmente foi como uma das formas que você imaginou ou desejou que fosse. De repente, todos aqueles desfechos que você arquitetou durante a espera eram bons demais para ser verdade. O final que você teve nem sempre é ruim, pelo contrário! Mas, infelizmente não foi tão bom quanto você imaginou.

Chega a ser engraçado... Durante toda aquela longa espera, a curiosidade lhe fez imaginar mil e um desfechos diferentes. E agora, com os olhos de quem já sabe o final da história, você revê os fatos ocorridos durante todo o capítulo e percebe que não poderia haver final diferente do que você teve. Tudo parece tão óbvio agora.

Final sem graça. Além de não ser aquilo que você esperava, acabou com toda a expectativa que você tinha. Expectativa que parecia dar mágica a sua história. Você passa a sentir falta do tempo em que estava curioso para saber como tudo aquilo ia acabar, pois percebe que, de certa forma, só o fato de ter esperança que seu final seria como o das novelas lhe agradava.

Nosso erro foi achar que teríamos um final ideal. Que teríamos um daqueles finais dignos de Oscar. Talvez o fim deste capítulo parecesse mais interessante se não tivéssemos bolados tantos outros finais, tão fantasiosos e tão perfeitos. Finais que aprendemos na infância a acreditar que existem, e depois somos obrigados a aprender que tudo não passava de histórias para você dormir. Mais cedo ou mais tarde, por bem ou por mal, aprendemos que o príncipe encantando não virá, que o vilão não será punido, e que o "felizes para sempre" é apenas uma força de expressão.

Nosso vida não é um filme, um livro, uma peça de teatro. Não haverá quem aplaudir quando as cortinas estiverem a cair. Talvez não haja simbolismos em nossa vida, assim como talvez não haja perfeição, não haja justiça. Não a nossa justiça.

Seu final não foi ruim, ele foi simplesmente real. Foi um final digno a você. Um final que você mereceu, levando em conta tudo o que você fez para chegar até aqui. E este é o ponto que difere nossa vida dos romances. Finais de romances novelescos são (de sua maioria) bonitinhos, mágicos e utópicos. Comparado a eles, nossos finais podem parecer chatos e sem graça sim, mas acima de tudo, eles são legítimos!

Finais ideais apenas parecem perfeitos, mas a verdade é que não há nada de mais desinteressante do que um "felizes para sempre".

...tanto que foram feitos para você dormir!