Manifesto do Ingênuo Sonhador

Pobre patriota, feito apenas para morrer num front de batalha qualquer. Um sujeito que dá a vida por uma causa forjada, e não percebe que tudo aquilo que ama o usa de forma fria, como um mero pião. O patriota é, antes de tudo, um ingênuo sonhador.

Ano que vem não haverá Copa do Mundo, por isso, tente se lembrar: em 2011, ser patriota é ser um idiota, comparável a alguém que se veste de papai Noel para entregar ovos de páscoa. Não sou eu que acha isso, mas todos nós sabemos que é assim que a coisa funciona por aqui.

"O Brasil não é um país para principiantes" (Tom Jobim)

À nossa pátria amada (salve salve!), xingamentos têm de sobra. O que está faltando mesmo são ações. Se está tudo tão ruim assim, por que não vemos mudanças? Não falo de aparecer um Chê Guevara canarinho e fazer uma puta revolução salvadora por aqui, mas apenas apresentar alguma saída. Das várias críticas que diariamente ouvimos ao Brasil, raramente encontramos sequer algum rascunho dum projeto de solução para o problema. Ou seja, a maioria das críticas é gratuita, sem qualquer intenção de mudar alguma coisa. Criticar sem agir é tão útil quanto reclamar da programação da TV e não trocar de canal. Por que no Brasil não vemos aquele instinto animal em todo mundo de mudar aquilo que está errado?

Não há reação do povo porque simplesmente não há nada de errado. Nossa pátria é feita por antipatriotas, e tudo o que mais queremos é ganhar dinheiro e sair logo daqui, "antes que o barco afunde". Então, pra que mudar o país se nós vamos pro exterior mais tarde? Acaba que ninguém dá valor algum para a terra em que pisa, afundando-a ainda mais no grande bolo fecal que ela se encontra.

O patriotismo, por mais forjado que seja, é um elemento fundamental para o desenvolvimento de uma nação. O patriota não é nenhum suicida, é apenas alguém que tem o desejo de ser útil, de se doar o mínimo que seja para um bem coletivo. Nenhum país chegará a lugar algum se aqueles que de lá nasceram não o valorizar. Para provar isto, basta ver as grandes potências: elas sempre foram extremamente patriotas, mesmo quando estavam em momentos de pesada crise.

Eu sou patriota, talvez o único que você conheça. Não sinto orgulho das rotineiras mortes diárias causada pela fome ou pela violência, nem da corrupção banalizada que talvez já faça parte da nossa cultura. Sou patriota pelo simples fato de querer mudar isso tudo como tantos outros querem, e não vai ser com um antipatriotismo de inércia, sentado num sofá apenas apontando os diversos podres do país que irei ter sequer alguma medíocre utilidade.

O Brasil está no buraco, e ao invés de nos apoiarmos para sairmos daqui, estamos ocupados demais apontando os culpados. Se fosse pra perder tempo, poderíamos ao menos nos ocupar com uma questão menos óbvia.