quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

In the flesh!


Entre mascaras e farpas, lá estava ela. O muro que a cercava e que fora construída por suas próprias mãos já estava tão alto que nem mesmo a luz do sol conseguia entrar. Ninguém sabia ao certo o motivo dela ter construído tal edificação. Sabia-se apenas que era ali, sozinha na penumbra, que ela se sentia protegida.

Aquela fortaleza era seu maior legado. Todos que passavam por ela eram obrigados a se deparar com sua muralha impenetrável. Muitos já tentaram quebrar sua defesa e ver sua real face, mas todos fracassaram, para motivo de orgulho daquela pequena garota. Seu ego era elevado, a tal ponto de fazê-la não perceber que todos aqueles invasores não desistiram – como ela preferia acreditar - apenas perceberam que ela não valia o esforço.

Contudo, como é normal que se aconteça, o tempo se encarregou de fazer com que aquela enorme fortaleza passasse a ser uma mera parte da paisagem, acabando com a diversão daquela garota. Não havia invasores, não havia ameaças, não havia qualquer contato com o mundo exterior. Havia apenas o silêncio sendo quebrado sutilmente por um estrondo.

Um tijolo acabara de cair.

"Tem alguém ai?" ela gritava na esperança de ter uma resposta. Inútil tentativa. Ela sabia que sua voz sequer sairia de sua própria proteção. Perguntava-se o que acontecera com o mundo lá fora. Não havia sinal de vida lá, tão pouco de ameaça! Aquele silêncio fazia todo seu esforço em criar aquela fortaleza parecer idiotice. Após tanto debater-se, havia decidido: iria sair. Ela precisava saber o que estava acontecendo.

Os portões se abrem, e ela sequer consegue dar um passo para fora. O sol invade sem piedade sua fortaleza, revelando todo o nada que havia ali dentro. Seus olhos, tão acostumados com a escuridão, foram imediatamente ofuscados. Desesperadamente ela procura a alavanca para fechar seus portões, e quando finalmente a encontra, uma doce brisa beija seu rosto, fazendo-a hesitar por alguns segundos antes de voltar para a escuridão.

Entre mascaras e farpas, lá estava ela. Desgostosa. O mundo lá fora não havia parado como imaginava, apenas resolvera ignorar a grandiosidade de seu muro. Ela tinha de volta seu silêncio e sua escuridão, mas aquela muralha a impedia de sentir aquela doce brisa novamente. Ela poderia se acostumar com o som das coisas e a luz do sol, mas poderia viver sem sentir a suavidade do vento em seu rosto que lhe trouxe paz em meio ao desespero?

Outro tijolo acabara de cair, e ela não sabia o que fazer.

3 comentários:

  1. "Eu que sempre me escondi do mundo, hoje talvez queira sair"
    Consegui enchergar pessoas e músicas dentro desse texto, será que é conhecidência?

    ResponderExcluir
  2. Não sei porque, mas me identifiquei muito nesse texto.
    Adorei, Thi, fiquei curiosa para saber o resto :( hisuheai
    Beijo!

    ResponderExcluir
  3. Você tá escrevendo cada vez melhor! Caramba, isso viraria um livro FÁCIL! :)Acho que todo mundo se identifica um pouco com esse texto neh :~ E eu tbm fiquei curiosa pra saber o fim *-* o/

    ResponderExcluir

Faça parte desse texto. Comente!