sábado, 16 de julho de 2011

A última noite de insônia


Vira, revira, vira de novo. Corpo e travesseiro mudam de posição incontáveis vezes. Seu corpo pede descanso, mas sua mente não consegue lhe dar. Estava ocupada, perturbada demais. Havia uma necessidade, mas seu orgulho impedia de ser satisfeita.

Cama vazia, luz do banheiro acesa. Encarava-se ao espelho, olhando fixamente em seus olhos vermelhos e abatidos. Havia mais do que sono ali. Via o que precisava ser feito estampado em seu rosto. Aquela não era a primeira noite de insônia, mas tinha de ser a última.

Colou a música que ouvira mais cedo, aquela que parecia ter falado com ela. Deixou-a tocar mais de uma vez, foi necessário. Olhava-se no espelho, e apreciava tudo acontecer. Vendo seu reflexo, sentia desprezo, raiva, pena, tudo estranhamente junto e contido. Sentia-se uma espectadora de seu próprio instinto.

Em poucos minutos, tudo havia sido feito. Seu corpo parecia ter expulsado um intruso. Diante de si, ela havia aguado sua insônia. Levantou seu rosto úmido, olhou-se novamente e se viu destruída. Sentia ainda mais desprezo, mais raiva, mais pena. Contudo, em seus olhos vermelhos restava apenas o sono. Era isso que queria ver.

Foi para a cama satisfeita. Não estava feliz com o que acabava de acontecer. O que sentira não era culpa, remorso, ou ódio. Nada do que sua razão, cheia de orgulho, pensava ser. Era apenas tristeza, pura e sincera, que naquela noite foi expurgada diante de seu reflexo.

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