Havia duas certezas que tornavam aquele homem de olhar baixo na janela do ônibus um ingênuo: acreditar que sabe lhe dar com a perda e que, naquele momento, estava dormindo. Pobre rapaz! Tudo aconteceu numa daquelas manhãs cinzentas, por mais que não houvesse qualquer nuvem no céu.
Mantinha-se sonolento. Não estava num sonho e tão pouco num pesadelo, como tentou convencer-se mais tarde. Sua vista doía e era real. Em meio a passageiros desconhecidos, reconhece um rosto que um dia já fora íntimo. Percebe-se então que uma de suas feridas não estava tão cicatrizada quanto se pensava.
Durante toda viajem seu olhar fixo na nuca daquela passageira, mantendo-se acordado. Precisava ver seu rosto novamente! Começou a ensaiar inutilmente qualquer discurso que transmitisse alguma falsa indiferença, num ato infantil de tentar evidenciar que havia superado o que passou. Entre várias frases desinteressadas e respostas incertas, a ideia de “isso não vai dar certo” vinha a sua cabeça frequentemente. Descartava-a imediatamente e voltava a seu ensaio. Estava desesperadamente entorpecido.
Ela se levanta, dando a certeza ao pobre rapaz que ele não estava pronto para encará-la. Infelizmente de acasos não se pode fugir. Engoliu a seco, respirou fundo, e tentou pensar em quais palavras simpáticas diria primeiro.
Ela se vira.
Não a conhecia.
Estava a salvo!
Não a conhecia.
Estava a salvo!
O alivio veio como o ar que muito falta aos pulmões, mas foi-se num lento piscar de olhos. “Estou salvo!”, disse novamente pra si mesmo tentando ignorar a incerteza que continha em sua voz. Acontece que ao ver aquela desconhecida de rosto tão familiar caminhar e distanciar por fora do ônibus, um pequeno grito acuado de seu inconsciente tornou-se audível.
Não, não era ela!
Mas no fundo queria que fosse.
Mas no fundo queria que fosse.
'Mas no fundo queria que fosse.' *-* bem real, gostei. chega a ser frustrante, dá vontade de saber o que aconteceria.. haha. :*
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